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terça-feira, 4 de dezembro de 2007

..............................................................a mesma alice de 3 de agosto 2007



nem todos recordarão alice.
ela vive ainda a sua história. os momentos deixaram de ser mágicos. depois de tantos avanços, tudo o que houve foram recuos. continua a receber poemas, continua a enviá-los, mas sente-se assustada. "quando eu morrer...", "tu não vais morrer...", "mas eu sofro do coração e...", "lê os meus poemas no meu enterro...", "não irei ao teu enterro...". alice anda assustada.
trocaram vinicius, por frases morbidas. veladas ameaças de suicídio. alice vê-as como chantagem. tenta pensar com a mesma frieza de sempre, com a sua razão apurada.
abel não é homem fácil. é hábil na resposta, no pressentimento. de natureza insegura e demasiado introspectivo. mantem uma mágoa que a aflige. em tudo a presença da ex-mulher é negativa, como ela o é. usa as duas filhas para o torturar. para fazer uma chantagem constante que não se entende. alice nada pode fazer. não querendo dar-lhe razão para não avivar um batalha de nervos, opta por não interferir. trata a questão como um assunto que não lhe diz respeito, mesmo quando a fúria de abel vem ao de cima.
a sua relação com os filhos é tão natural. com o ex-marido a amizade perdura. não consegue entender tanto rancor. podia entendê-lo no momento da separação, por todas as guerras, pela utilização das meninas como alvo e como escudo. mas passados estes anos... não entende o porquê das constantes hostilidades. dois seres, adultos, cultos... como podem servir-se assim de seres tão frágeis como aquelas crianças. a mãe!... que mãe é aquela, que insiste em afastá-las do pai. e porque mantem ele o trauma da separação e alimenta ódio da actual relação da ex-mulher. alice sabe que não é amor, não tem qualquer dúvida. mas doi-lhe este sentimento, este apego a um passado, uma raiva que parece teimar em não morrer. sente que abel alimenta a tortura de ter sido trocado por outro. era isso que o enraivecia, o ter sido traído. era isso que a enervava, ver que não conseguia ultrapassar algo tão antigo, passado com alguém que diz já não amar.
aproximava-se outro fim de semana sim. abel viria sexta para regressar no domingo.
alice recorda a primeira vez que o foi buscar ao aeroporto. os nervos que dela se opoderavam. a roupa, tão bem escolhida! tanto a interior com a exterior. o brilho que tinha nos olhos, sem ter ilusões ou planos de futuro. planos, naquela relação! pois os seus planos para a vida estavam definidos e o abel não cabia neles, bem como não cabia qualquer outro homem. a sua vontade era ficar só, na sua casa. relações de amor, mesmo uma que fosse, seriam fora dela. independência e liberdade acima de tudo. tempo. para si, para os seus. era assim que seria. cada um na sua casa. desta ideia não parecia disposta a abdicar, por ninguém ou nada deste mundo. a presença de abel não estava a alterar nada. para seu agrado, o assunto nem era abordado. a distância entre ambos ajudava este silêncio, como um facto consumado. o mestrado na alemanha não deveria ser interrompido e abel também não queria fazê-lo.
não havia a pressa de ver a semana passar. não havia a preocupação de escolher que roupa usar.
para muitas mulheres isto seria um fim à vista. também para ela o era, mas não queria vê-lo. mas não se tratava de suportar uma situação a que gostaria de fugir. perguntava-se o que era então. porque mantinham conversas até altas horas? porque continuavam a combinar encontros furtuítos e de certo modo secretos? porque continuavam a encontrar-se fim de semana sim, fim de semana não? estava certa que o prazer não era o mesmo. estava seguríssima de não o amar. porquê então?
examinava todas as suas palavras. queria por força entender todas as vírgulas, todos os sentidos. queria entendê-lo. achava-o verdadeiramente louco, doente. mudava a sua opinião para o ver apenas como um homem loucamente apaixonado. lia-o nas suas mensagens, nos seus poemas. ouvia-o em todas as suas palavras.
e a semana chegou ao fim. a noite de sexta-feira aproximou-se mais rapidadmente do que esperava.
saiu do trabalho e, contrariamente ao habitual noutras sextas, não foi directamente para casa.
faltava leite, algumas bolachas, fruta. encheu o cesto de compras e dirigiu-se à caixa. na passagem viu-se reflectida num espelho. não estava mal. costumava arranjar-se bem. estaria talvez com um ar cansado, um pouco despenteada, com a maquilhagem a precisar de retoque. não tinha tempo e não tinha muita vontade.
quinze dias. passaram outros quinze dias pensou, enquanto se metia no carro.
não estava atrasada, nem tinha pressa de chegar.
ligou a saber dos miúdos. tudo em ordem, em casa do pai. estudem! durmam bem, beijinhos.
rumou ao aeroporto. ligou o rádio e foi surpreendida por caetano. sei que vou te amar... por toda a minha vida vou-te amar... sabia a letra, a música. era umas das que faziam apertar o coração. das que faziam andar atrás no tempo. cantou com ele. deu por si a voar. não era seu hábito. chegou depressa.
a espera deu-lhe tempo para um café. para apreciar quem partia e quem chegava. lágrimas para ambos os lados. adeus! olá! quase todos com direito a abraço forte. viu-se assim tantas vezes, mas hoje não seria assim.
alice! alice!
voltou-se e viu abel na gare.
não consegui avisar-te, tinhas o telemóvel desligado. queria ter feito uma surpresa. consegui apanhar o vôo anterior.
desculpa, não imaginei que me ligasses!
que bom ver-te! que saudades... estás bem?
na verdade sentiu-se bem ao vê-lo. surpreendeu-se por isso. que pena ter o telemóvel desligado, pensou!
a que horas chegaste?
às oito. não quis apanhar um táxi pois tive medo que nos desencontrassemos.
pois!
que querias dizer-me? parecias triste! algum problema?
nada! foi um momento mau... já passou! queres levar tu o carro?
sabes que sim!
amo-te!
e eu a ti!

8 comentários:

maria josé quintela disse...

fantasia ou realidade?

Anónimo disse...

Tufa:

Em primeiro lugar, obrigada pelas palavras de apoio que deixaste no meu blog, querida amiga. Infelizmente este meu dia correu pior que o outro, mas tenho esperança de pelo menos no fim-de-semana poder descansar deste mar de tragédia em que a minha vida se meteu.

Gostei muito destas tuas palavras, e vou procurar o outro texto sobre a alice, para ler e perceber melhor.

Um grande beijinho e uma boa noite.

Anónimo disse...

faz de conta um ovo: se apertamos demasiado parte-se, se largamos quebra-se...

É a mesma Alice??

Texto brilhante!!! tens tds os meus oscares.

Bjs do coração
Jesus

as velas ardem ate ao fim disse...

Fiquei numa choradeira...lindo.

bjo

pn disse...

estranha estória...

Anónimo disse...

Agora sim, querida, podes voltar! ;)

Espero que por esta hora a Alice também já não esteja triste.

Um grande beijinho!

Anónimo disse...

ENCONTROS E DESENCONTROS FAZEM PARTE DESTA TRAGICOMÉDIA QUE É A VIDA E EM PARTICULAR O AMOR!
SABER SUPERAR OS MAUS MOMENTOS É ESSENCIAL...
PROCUREI A ALICE EM 3 DE SETEMBRO MAS PELO MENOS O NOME DELA NÃO VINHA LA´!
A HISTÓRIA É MESMO REALISTA, A IDA AO SUPER... AS BOLACHAS... SERÁ REAL?

ESPERO Q A ALICE A ESTA HORA ESTEJA NO PAÍS DAS MARAVILHAS ! :))

BEIJOCAS PARA AMBAS

Anónimo disse...

Tufa

as desconhecidas razões do amor. Alice o sabe.

beijos

Fuser