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domingo, 10 de fevereiro de 2008

acordou a desejar trocar a sua vida com alguém. o dia começara cedo. mais um sábado de trabalho. o sexto dia igual da semana. quase igual. a manhã correu relativamente depressa e melhor do que contava. quase sempre ocupada. ninguém novo. acusa constantemente a sua memória de a atraiçoar. é injusta consigo. o local, a casa, o apelido... recordava tudo. teriam passado quinze anos? sim, pelo menos quinze. o telefone tocou por diversas vezes. assuntos, trabalho, recados, pedidos... saiu já depois da hora. para a tarde tinha agendado um encontro. infelizmente, relacionado com trabalho. não o conhecia. uma pessoa amiga tinha-o recomendado para o negócio. josé era o nome. falaram ao telefone e combinaram encontrar-se no centro. ao chegar josé telefonou-lhe. não era seu hábito fazer esperar. não havia propriamente hora marcada. chegou um ou dois minutos após o telefonema. ambos com o mesmo modelo de carro. um branco o outro cinza. não foi difícil localizar o josé, em frente à loja da sony. se houvesse outro homem parado no local aquele que lhe sorria não seria ele. foi rápida a apresentação. o restante percurso era mais complicado, o que obrigou ao encontro no centro. uns dez minutos depois estavam no local pretendido. era suposto ser um negócio. o melhor para ambas as partes. era suposto ela ter uma ideia de valores. ela supunha que ele faria uma oferta. um impasse. no fundo, para ela fazer negócio era fazer um qualquer negócio. nunca se sentiu intimidada por negociar com um homem. agradável era fazer um negócio daqueles com alguém tão diferente do que tinha imaginado. talvez josé pensasse o mesmo. imaginava encontrar-se com alguém bem mais velho que ela. porque não dizer também, baixinho e gordinho. josé queria sair com valores e compromissos. ela não tinha a mínima ideia do montante a pedir. apostou na oferta. conseguiu-a. ficou satisfeita por não se ter adiantado. negócio fechado. um ou outro pormenor mais para falar. segunda-feira tratam-se os detalhes, combina-se o dia. saiu-lhe um peso de cima. teve a certeza que no mostrador da balança veria uma diferença. será que alguém lhe compraria a balança? era tarde. a conversa prolongara-se. em bragança, um padre havia feito um bar na cave da igreja. mirandela tinha crescido muito. era um pouco tarde. no caminho de regresso olhou o sol. espantou-se com o seu vermelho. esboçou o primeiro sorriso pleno do dia. o sol não estava muito longe de tocar o mar e ela não estava muito longe da foz. o seu sorriso encheu-se de vontade. desviou. pena que se enganou no desvio. quando chegou à foz o mar tinha engolido o sol por completo. já nem o seu aroma se via no ar. pareceu-lhe impossível ele não ter esperado por ela. não desarmou o sorriso apenas porque aquele era um verdadeiro sorriso. registou outra luz no seu olhar. aliás, no registo ficou com três pontos de luz sobre o fundo... o mar. e, porque o seu trabalho não tinha ainda acabado, engatou primeira e seguiu marginal fora. uma entrega. um amigo. uma loja bem situada. mais um. o trânsito estava caótico. ele avisou-a para virar à direita junto à igreja. porque tinha que pensar que aquela primeira direita era demasiado próxima da fila da avenida principal? tinha que fazer o contrário! mais tarde ou mais cedo chegaria... e chegou!

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