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terça-feira, 28 de setembro de 2010





engole o choro! - impôs entre dentes. com o olhar carregado de impaciência e as mãos carregadas de ferventes castigos. engole-me esse choro!
naquele momento não sentia dor mas revolta, estampada nos olhos. por eles faiscava um princípio de ódio que rebentava em lágrima mudas. a injustiça partia de cima. o objecto do seu amor metamorfoseava-se naqueles suplícios. com quanto amor os mesmos olhos a fitaram!
engoliu tantas lágrimas que o seu rosto se fez triste e o negro tingiu-lhe a pele, circunscrevendo os olhos e os seus beijos tomaram o sabor da amargura. cada homem que a beijava cuspia-a, como se de fel se tratasse. engole o choro! - repete a si mesma.


domingo, 11 de julho de 2010

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calarei todas lágrimas,

são elas que me obrigam a chorar!
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sábado, 22 de maio de 2010

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o ser resiste. a seu modo. um pássaro
de asas depenadas. uma árvore
de raízes desfraldadas. um corpo
sem vigor.
bem me disseste que os meus olhos
suariam cansaços imensos
e a par se sentiriam abandonados.
esse pássaro enlouquece o vento.
desconhece o pairar das nuvens
e o sentido das chuvas.
esse pássaro tem sede
e não a lê nas águas.
no preciso momento
em que as folhas descomprometidas se esgotam,
a tinta fluida entope na veia do saber,
a memória tropeça e atraiçoa...
eis que a eloquência parece apoderar-se do sono.
escuta-a e tenta recordar!
lembraste-me que fizemos um acordo
e há uma tentação constante de incumprimento.
as raízes alimentam-se das recordações
e da saudade,
e sugam esse alimento da tua terra fértil.
deixam-te as pernas cambaleantes
num teatro desertificado. não sei quem padece.
na dor e no êxtase
o corpo e a alma fundem-se.
fervilha inconsciência
e a língua é um empecilho no exíguo espaço da boca.
podia ter lido nos teus lábios.
devia, ter lido nos teus lábios.
não te faças ao mar, aproxima-se tempestade.
retenho a imagem. em câmara lenta.
nos teus lábios. na tua boca em grito,
difuso e de alerta.
real visão de embarcação sem timoreiro
perseguindo o rumo.
horizontou-se o mastro, as velas perderam-se
como as penas das asas do pássaro
e o casco deu-se à ventania
como as raízes descompostas da árvore.
o corpo perdeu então o vigor.
o bando resignadamente abandonou o indefeso
depois de voos em círculos até um basta.
parte! também as areias seguiram.
da árvore, foi-se o chão.
ela dará um passo pois adiante há caminho.

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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

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recebi um abraço que tão bem me soube. perguntou-me quem mais gosto de abraçar e eu não consegui ainda parar de contar. quis saber também quem eu nunca abraçaria mas essa contagem em pouco tempo acabaria. e quando questionou quem eu tudo dava para poder abraçar deixou-me as lágrimas num quase rebentar... talvez por ter o que não posso dar e não conseguir fazer o tempo para trás andar.








oferecem-se abraços a quem deles precisar ou quem deles gostar e por aqui passar.
um abraço, velas




terça-feira, 6 de outubro de 2009

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desfiz as malas para um regresso.
arrumei letras e vírgulas!
numa caixa, fechei à chave o ponto
para a apoteose do final.
e à mão, coloquei a interrogação!
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terça-feira, 25 de agosto de 2009

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fala-me de ti...dos dias que não vivo, dos momentos em que sobrevivo.tu, que em mim tens um lugar cativo.de ti alimento palavras que em meu jardim cultivo.fala-me do valor das coisas, do poder que os silêncios ganham, desta saudade...ela se faz tamanha, da noite escura que a solidão de ser desenha.diz-me como podes...esquecer os dias libertinos, ultrapassar tantos desatinos, não ler nos meus olhos cristalinos a amargura dos nossos dois destinos.pensa-me com carinho...todo aquele que ainda nos restar, pois foi nossa vontade este amar, tão grande a vertigem neste dar, uma loucura aos teus braços me entregar.guarda-me no peito...traz-me em ti presente, eu pensarei em ti eternamente, nem sabendo que estás longe te verei ausente, apenas o destino me desmente, e no fundo de ti não sou já presente.iventa-me pelo menos mais um dia...nem que seja para a despedida ou apenas para anunciares tua partida, passa as mãos no meu corpo de fugida, encontra para o meu coração uma saída, a cura para esta pena infligida.mas agora mata-me...mata o meu desejo antes de te ires, não me deixes sem o conseguires, que me importam já nossos porvires, sucumbo no teu beijo...antes de partires.
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terça-feira, 11 de agosto de 2009

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que bem me deseja o mundo,

se nem repara quando passo?!
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